Revista virtual
|
CAFÉ SEM AGROTÓXICO, SIM OU NÃO?
Quando em 1979, plantei 15 mil pés de cafés orgânicos em minha propriedade no município de Alto Jequitibá na região do Caparaó, não consegui clientes para aquele maravilhoso produto. Naquela época, já estávamos bem avançados com a divulgação dos produtos orgânicos e naturais, inclusive na minha empresa EMPEROR GINSENG criada em 1975, instalamos um setor gráfico exclusivo para a produção e divulgação grátis de panfletos, livros e cartazes sobre os benefícios dos produtos orgânicos e naturais, todavia as pessoas mais se interessavam por frutas, verduras e legumes orgânicos e poucas pessoas pensavam em consumir café orgânico. O consumo de produtos orgânicos certamente cresceu bastante com o passar dos anos, mas me lembro bem que o meu companheiro Márcio de Castro da “Editora Ground” e outros amigos, chegaram a plantar grande quantidade de cenouras orgânicas, que no final foram degustados pelos cavalos do “Jóquei Club do Rio de Janeiro” por falta de consumidores humanos.
No caso do café orgânico, ainda não sei o porque, mas podemos perceber que as pessoas, talvez por acharem que se tratando de um grão, que possui além de uma camada protetora como a casca propriamente dita, outra capa chamada de pergaminho, não apresentam risco para a saúde, pois acham que o produto não será contaminado pelos agrotóxicos como no caso dos pêssegos, morangos, alfaces e outros produtos que são consumidos ao natural e não possuem este tipo de casca de proteção.
Para se ter uma ideia muitos produtores de café convencional especialmente em Minas Gerais e Espírito Santo , capinam suas lavouras com ROUNDUP que é o glifosato, na verdade o “AGENTE LARANJA” que foi usado no Vietnã, agora com outro nome que na propaganda da fabricante diz poder erradicar “as ervas daninhas” de um dia para o outro. Ainda que tenha sido aprovado por organismos reguladores de todo o mundo, e seja amplamente utilizado no Brasil e Estados Unidos, na Europa já está praticamente erradicado de vários países e ainda causa muita polêmica e discussão entre os cientistas de todo o mundo. O Roundup foi achado em amostras de águas subterrâneas, assim como no solo, e no mar, incluindo nas correntes de ar e nas chuvas. Mas sobretudo nos alimentos e é a causa do desaparecimento das abelhas, produz malformações, infertilidade, câncer e destruição do sistema imunológico e em estudos independentes demonstraram efeitos negativos sobre a saúde que vão desde tumores e função orgânica alterada, até a morte por intoxicação. Como pode ser que as pessoas pensem que este veneno não está presente nos grãos de café convencional colhidos no Brasil...Vejam este dado de 2012:
Segundo dados da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) e do Observatório da Indústria dos Agrotóxicos da UFPR, divulgados durante o 2º Seminário sobre Mercado de Agrotóxicos e Regulação, realizado em Brasília (DF), em abril de 2012, enquanto, nos últimos dez anos, o mercado mundial de agrotóxicos cresceu 93%, o mercado brasileiro cresceu 190%. Em 2008, o Brasil ultrapassou os Estados Unidos e assumiu o posto de maior mercado mundial de agrotóxicos. O consumo médio de agrotóxicos vem aumentando em relação à área plantada, ou seja, passou-se de 10,5 litros por hectare (l/ha) em 2002, para 12,0 l/ha em 2011( Últimos dados - imaginem agora em 2020). Tal aumento está relacionado a vários fatores, como a expansão dos plantios de sementes transgênica que amplia o consumo de glifosato, a crescente resistência das ervas “daninhas”, dos fungos e dos insetos, demandando maior consumo de agrotóxicos e/ou o aumento de doenças nas lavouras, como a ferrugem e outras doenças que aumentam o consumo de fungicidas. Outro Importante estímulo ao consumo vem da diminuição dos preços e da absurda isenção de impostos dos agrotóxicos, fazendo com que os agricultores utilizem maior quantidade por hectare.
Um terço dos alimentos consumidos cotidianamente pelos brasileiros está contaminado pelos agrotóxicos, segundo análise de amostras coletadas em todas as 26 Unidades Federadas do Brasil, realizadas pelo Programa de Análise de Resíduos de Agrotóxicos em Alimentos (PARA) da ANVISA (2011).
Em 63% das amostras analisadas apresentaram contaminação por agrotóxicos, sendo que 28% apresentaram ingredientes ativos não autorizados (NA) para aquele cultivo e/ou ultrapassaram os limites máximos de resíduos (LMR) considerados aceitáveis. Outros 35% apresentaram contaminação por agrotóxicos, porém dentro destes limites. (Note bem: Contaminação por agrotóxico dentro dos limites aceitáveis ...Teríamos de supor que o limite aceitável deveria ser “ZERO” para que tenhamos alimentos saudáveis e seguros para o consumo humano e animal)
São muitos os herbicidas, inseticidas, fungicidas, acaricidas e outros (adjuvantes, surfactantes e reguladores) químicos sintéticos legalizados no Ministério da Agricultura, usados nas lavouras de café convencional, alguns deles já foram banidos no Brasil como o ENDOSULFAN, e outros como o agrotóxico PARAQUATE que a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA), após ter decidido pela proibição da produção, acaba de liberar o seu uso até o ano de 2021 para gastar os estoques deste agrotóxico no país. Para muitos este ato da ANVISA é criminoso, pois este veneno é considerado altamente tóxico ao sistema neurológico, a substância é uma das mais nocivas à saúde humana, sendo associada, em diferentes estudos científicos, ao mal de Parkinson e a mutações genéticas. O paraquete tem uma toxicidade aguda muito elevada e uma pequena dose dele pode matar, inclusive por isso ele é muito utilizado em processos de suicídio”.
Mas infelizmente existe um grande “lobby” das indústrias fabricantes destes venenos, que ganham fortunas com a venda desses insumos, portanto podem gastar parte desta grana para convencer políticos, cientistas, agricultores e consumidores, de que os agrotóxicos não são nocivos a saúde humana quando usados adequadamente de acordo com a bula, mas vejamos que existe uma classificação oficial dos órgãos reguladores dos agrotóxicos em função dos seus efeitos à saúde, decorrentes da exposição humana a esses agentes:
Classe toxicológica Toxicidade DL50
Classe I - extremamente tóxico - 5 mg/kg
Classe II - altamente tóxico entre 5 e 50 mg/kg
Classe III - medianamente tóxico entre 50 e 500 mg/kg
Classe IV - pouco tóxico entre 500 e 5.000 mg/kg
Classe V - muito pouco tóxico acima de 5.000 mg/kg
Estes são os agrotóxicos organo sintéticos usados na agricultura convencional:
Clorados: grupo químico dos agrotóxicos compostos por um hidrocarboneto clorado que tem um ou mais anéis aromáticos. Embora sejam menos tóxicos (em termos de toxicidade aguda que provoca morte imediata) que outros organo-sintéticos, são também mais persistentes no corpo e no ambiente, causando efeitos patológicos no longo prazo. O agrotóxico organoclorado atua no sistema nervoso, interferindo nas transmissões dos impulsos nervosos. O famoso DDT faz parte deste grupo.
Clorofosforados: grupo químico dos agrotóxicos que possuem um éster de ácido fosfórico e outros ácidos à base de fósforo, que em um dos radicais da molécula possui também um ou mais átomos de cloro. Apresentam toxidez aguda (são capazes de provocar morte imediata) atuando sobre uma enzima fundamental do sistema nervoso (a colinesterase) e nas transmissões de impulsos nervosos.
Fosforados: grupo químico formado apenas por ésteres de ácido fosfórico e outros ácidos à base de fósforo. Em relação aos agrotóxicos clorados e carbamatos, os organofosforados são mais tóxicos (em termos de toxicidade aguda), mas se degradam rapidamente e não se acumulam nos tecidos gordurosos. Atua inibindo a ação da enzima colinesterase na transmissão dos impulsos nervosos.
Carbamatos: grupo químico dos agrotóxicos compostos por ésteres de ácido metil carbônico ou dimetilcarbônico. Em relação aos pesticidas organoclorados e organofosforados, os carbamatos são considerados de toxicidade aguda média, sendo degradados rapidamente e não se acumulando nos tecidos gordurosos. Os carbamatos também atuam inibindo a ação da colinesterase na transmissão dos impulsos nervosos cerebrais. Muitos desses produtos foram proibidos em diversos países também em virtude de seu efeito altamente cancerígeno.
De qualquer maneira quando se usa agrotóxicos nos plantios, além da contaminação do próprio alimento, pois a planta está viva e os transporta em seu interior, a contaminação do lençol freático, das águas subterrâneas, dos córregos, rios e mares é uma constatação que não se pode ser negada, além da contaminação direta por quem aplica ou transita nestas lavouras.
O que mais me chama a atenção nos dias de hoje, com a grande descoberta por milhares de pessoas da diferença entre os cafés commodity e do café especial ser o seu Sabor, Aroma, Fragrância, Acidez, Corpo, Uniformidade, Xícara limpa, Doçura, Balanço e Defeitos e não ser levado em consideração, se ele está contaminado por agrotóxico ou não. A meu ver um café especial que foi tratado com adubos químicos, inseticidas e fungicidas químicos sintéticos constituem um grande DEFEITO e certamente na próxima onda do café o quesito contaminação por agrotóxico deverá ser um fator limitante para quem realmente ama tomar um café especial (COFFEE LOVERS). Quem é que vai querer saborear um café especial, com alta pontuação, com todo o seu diferencial do café comum, delicioso, mas que ao longo do tempo, vai deixar uma sequela ou acabar lhe trazendo uma doença que certamente vai fazer você nunca mais poder tomar uma xícara de café e que além de tudo contamina as águas, o solo, o ar e todo o ambiente. O sistema de Plantio Biológico não é só um sistema de plantio, mas sim um modo de vida saudável, contínuo e que garante saúde e prosperidade para as futuras gerações. Para quem gosta realmente de tomar um café especial, os cafés especiais SAT (sem agrotóxicos) e os Cafés especiais BIORGÂNICOS, são os mais recomendados.
Sabor e saúde não podemos abrir mão, por isso na hora de comprar o seu “Café Especial” pense bem e …. tenha “Harmonia” na sua casa!!!
|
Autor: Carlos Monteiro
- Presidente da Fundação Vida e Meio Ambiente
- Diretor Executivo – Fazenda Harmonia - MG
Copyright © 2010 - Fundação Vida & Meio Ambiente
31 4042 3337- fundacaovidaemeioambiente@gmail.com