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Café é a planta mais inteligente do mundo?
Por vários anos acreditei que o Ginseng fosse a planta mais inteligente do planeta Terra, mas depois de pesquisar e conviver com o plantio de café, mudei de opinião.
Entre os reinos atualmente descritos no nosso planeta, os considerados principais são o reino Animália e o Plantae e entre eles percebe-se a perpetuação da espécie como uma necessidade primária em comum. O reino Animália é considerado o mais evoluído e usa a locomoção como estratégia de sobrevivência, já o reino Plantae é o mais antigo e se caracteriza por sua natureza imóvel, porém estes são imprescindíveis para manter a vida no planeta ao liberarem oxigênio através da fotossíntese.
As plantas para sobreviverem e perpetuar a sua espécie, desenvolveram vários mecanismos que aumentam a possibilidade de viver e manter este ciclo indefinidamente. E ela está bem visível entre outras, no Picão (Bidens Pilosa) por ter suas sementes adaptadas com a capacidade de se segurar em superfícies como nos pelos dos animais e no corpo e roupas usados pelos humanos e assim serem transportadas para diversos lugares aumentando as chances de sobrevivência. Outras espécies denominadas de “carrapichos”, nome comum de vários subarbustos das leguminosas, gramíneas, malváceas e liláceas que também desenvolveram este mecanismo em seus frutos, que apresentam pequenos espinhos ou pêlos. As denominadas plantas carnívoras, apesar de estarem fixadas em um lugar, conseguem caçar suas presas usando habilidades atrativas para capturar as suas presas. Outras habilidades das plantas é a alelopatia, que é definida como o efeito inibitório ou benéfico, direto ou indireto, de uma planta sobre outra, via produção de compostos químicos que são liberados no ambiente.
É do conhecimento geral e já bastante divulgado inclusive em livros, que as plantas sentem sensações como dor, sofrimento, amor, mesmo que o amante ou agressor estejam a quilômetros de distância. De acordo com os mais recentes estudos científicos sobre o assunto, chegou-se à conclusão que as plantas têm linguagem, memória, cognição ( capacidade de adquirir conhecimento) e são capazes de fazer escolhas. A comunicação das plantas vai além da realizada entre as suas raízes, que usam o solo como meio de propagação e chegam a usar alguns insetos para transportar mensagens entre seus vizinhos em caso da necessidade de se ter um controle de infestações. Quando uma planta é atacada por alguma doença ou percebe a presença de algum herbívoro potencialmente perigoso, elas liberam compostos voláteis que viajam pelo ar para avisar as outras plantas sobre a presença destes predadores. Estas moléculas orgânicas são percebidas pelas outras plantas, pois são combinadas como um alfabeto e podem ser interpretadas como uma mensagem.
O cafeeiro é originário do continente Africano e vivia dentro das florestas na Etiópia e saiu da mata para dominar o mundo. Atualmente existem milhões de pés de cafés espalhados por vários continentes e milhões de seres humanos dispostos a plantar, cultivar e perpetuar esta espécie de planta. Anualmente são colhidos cerca de 165 milhões de sacas de 60 quilos e com crescente aumento anual na faixa de 3%. O café se transformou em riquezas e gera emprego e renda para uma parcela significativa da população através de toda cadeia de produção mundial envolvida.
O café teve o início de seu consumo no ano 575 DC e passou por muitas artimanhas e situações inusitadas, inclusive foi considerado coisa do Diabo quando chegou à europa e por ser uma bebida de pais mulçumano era considerada herege. Foi o Papa Clemente VIII que propôs que a bebida fosse batizada e se tornasse cristã.
Aqui no Brasil, a chegada das sementes ocorreu por intermédio do Bandeirante que trabalhava para a coroa Portuguesa, Francisco de Melo Palhete, que trouxe as sementes da Guiana Francesa, clandestinamente, presenteadas pela esposa do governador francês Claude d’Orvilliers.
Durante anos, aqui no Brasil, os “Barões do Café” viveram em conforto e privilégios, exploraram e incentivaram o tráfico negreiro mantendo em suas fazendas escravos em trabalho forçado no cultivo do café que só terminou por volta de 1880 com as campanhas abolicionistas e a chegada dos imigrantes. O café parece ser um produto de todos , visto que no mundo inteiro, mesmo nos países que não produzem este fruto, movimentam grandes volumes de recursos, com poderosas indústrias de transformação e comércio de seus subprodutos gerando e mantendo empregos. Para desenvolver a crescente demanda pelo café no mundo ao longo dos anos, foram criadas Cooperativas, Fábricas de equipamentos, Exportadoras, Cafeterias, Transportadoras marítimas, Concursos, Associações, Organizações Internacionais, Bolsa de Mercadorias, e se transformou no segundo mais importante commodity ( mercadoria), perdendo somente para o petróleo e se transformando por seu sabor em bebida especial, gourmet e mudando hábitos de vários povos passando a ser a bebida mais consumida atualmente na Inglaterra deixando o tradicional chá para trás e segue conquistando os Chineses. O café é a segunda bebida mais consumida dos habitantes deste planeta depois da água e tudo leva a crer que esta planta conseguiu usar os seres humanos para alcançar o seu objetivo primário que é a perpetuação de sua espécie.
O que está acontecendo com a planta do reino “ Coffeea” da família das Rubiaceae, só foi possível porque os humanos foram possuídos pelo reino “Plantae”, que era considerado inferior, menos evoluído e a humanidade durante muito tempo ignorou os seres mais antigos e espertos do Planeta Terra. O café conquistou seus amantes e os escravizou , não só pelo seu sabor ou pelo exuberante aroma de suas flores durante a floração ou pelo lindo visual que apresentam os pés de café de suas folhas aos botões florais até chegar ao desabrochar das suas flores, mas também pelos compostos químicos presentes em sua composição. Além dos vários elementos biologicamente ativos encontrados nos grãos de café que fazem bem à saúde humana, a cafeína é o elemento chave neste processo de conquista e simbiose. Cientificamente a cafeína é o elemento mais estudado do café e até o momento é o principal responsável pelas propriedades estimulantes que deram popularidade à bebida. A Cafeína, diferente de outros elementos na natureza, mesmo que levada a temperaturas extremas nunca perde a sua característica e sempre terá seu efeito estimulante. Esta parece ser a grande estratégia desta planta, pois as pessoas no mundo todo, utilizam a sua bebida em preparos diferentes, usando tipos de extratores diversos como prensa Francesa, máquinas expresso, coadores diversos, filtros entre outros e muitos não vivem sem tomar o café desde as primeiras horas da manhã para despertar, outros para enfrentar as atividades físicas e mentais ao longo do dia. Eu, por exemplo, se deixar de tomar café durante todo o dia por algum motivo, ao anoitecer fico com uma leve dor de cabeça que imediatamente me alerta para que eu tome uma boa e deliciosa xícara de café e assim poder voltar ao meu estado normal. Como assim voltar ao meu estado normal, então eu estou dependente do café? ou isso é o normal?
Sou produtor Rural de cafés orgânicos especiais na região do Caparaó em Minas Gerais e hoje posso afirmar que o cafeeiro é a planta mais inteligente do nosso planeta, isto porque percebo que ela me transformou num tipo de “escravo” e eu trabalho para ela, diariamente, inclusive aos sábados, das seis da manhã às seis da tarde, para mantê-la saudável e feliz, protegida e amada, para que ela possa produzir cafés da melhor qualidade. E faço isso com prazer e na maior parte do meu tempo livre passo estudando, pesquisando, me especializando e fazendo cursos de viveirista, degustação, gestão, adubação, secagem, moagem, torrefação, só para conhecê-la melhor e assim poder servi-la.
E como eu milhares de produtores rurais em todo o mundo, vivem as sensações proporcionadas pela experiência desta interação enraizada e escravizada ao plantio. Um pé de café vive muitos anos, cerca de 80 anos ou mais se bem cuidados, assim sendo, vai passando de geração em geração como uma obrigação adquirida hereditária.
Posso reafirmar que entre os atuais cinco reinos conhecidos o “Plantae” está acima do reino “Animália” e pode ser considerado o mais evoluído de todos..
Autor: Carlos Monteiro
Diretor Executivo da Fazenda Harmonia
Presidente da Fundação Vida e Meio Ambiente
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