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Morangos, saborosos e venenosos!
Outro dia quando fui fazer compras de “mercado” na cidade vizinha, encontrei um vendedor de morangos. Após perguntar o preço, falei que estava querendo comprar 1 kilo e meio de morangos para fazer um teste para produção de geleia de morango. Ele me vendeu o que solicitei em 5 caixinhas chamadas de “cumbucas. Aproveitando a oportunidade perguntei se era ele quem plantava e ele disse que não, apenas ia no produtor e comprava para revender. Perguntei como era feito o plantio, era convencional? Ele me disse que era assim comum, como todo mundo faz, plantado na terra, aí eu perguntei se usavam produtos químicos no plantio e ele disse que sim e que usavam bastante, que era para proteger a safra.
Perguntei se ele já havia ouvido falar do “morango orgânico”. Ele respondeu que não da certo plantar morango orgânico, porque produz morangos pequenos, desformes e dá muito trabalho e passou a decretar a sentença final dizendo que esse negócio de morango orgânico não existe, se caso alguém quisesse me vender um morango dizendo que era orgânico, para eu não acreditar, porque a pessoa estaria mentindo, tentando me enganar. Aí eu fiquei quieto e agradecido fui saindo e pensei no projeto “MORANGOS DA VILLA” que esta sendo desenvolvido pela “Fundação Vida e Meio Ambiente” na Vila Padre Júlio Maria no córrego da Vargem Grande em Alto Jequitibá/MG, projeto este que é exatamente para produzir morangos orgânicos.
O início do cultivo do morangueiro no Brasil, do qual se tem conhecimento, é de 1960. O Morango é uma planta muito sensível e atualmente é a campeã no uso de agrotóxicos e adubos químicos no seu plantio. Infelizmente o produtor de morangos convencional, conhece as pragas e as doenças que atacam a lavoura e para não ter a chance de perder a produção ele investe preventivamente, usando vários tipos de agrotóxicos. São mais de 400 venenos e várias pulverizações semanais, chegando até 40 pulverizações e como o período de floração até o da comercialização é pouco, faz o produto chegar a mesa do consumidor com venenos ainda ativos e potencializados.
Há centenas de grupos químicos que são usados durante o plantio de morango convencional e cada um provoca efeitos diferentes: uns agem sobre o sistema imunológico, outros no sistema endócrino, outros provocam alterações hepáticas, câncer, disfunções na tireoide, abortos, partos prematuros, doenças neurológicas, hiperatividade em crianças, enfim, há uma enorme quantidade de doenças que estão cada vez mais frequentes nas pessoas. Cada um reage diferentemente a absorção destes elementos, uns desenvolvem doenças apenas porque moram próximo a plantações onde se usa muito veneno e a contaminação chega pelo ar. Há outros casos em que o uso intensivo de venenos agrícolas atinge a água que abastece as pessoas de uma região. O mais comum é o envenenamento por consumo de alimentos. As altas taxas de resíduos de agrotóxicos podem produzir efeitos de longo prazo nos consumidores, que muitas vezes nunca viram uma embalagem de veneno. Estas pessoas dificilmente saberão que as doenças que os afligem foram provocadas pelos agrotóxicos que estavam presentes nos alimentos que consumiram até aquele momento da vida.
Ainda temos um agravante que deve ser considerado como um grande problema do uso de agrotóxicos para produção de alimentos, é o contrabando de venenos. Aquele que esta sendo vendido legalmente nas lojas já é considerado péssimo para saúde humana e muitos deles foram banidos em seus países de origem e aqui conseguiram se legalizar, mas aquele que está sendo contrabandeado ele é considerado pior porque até mesmo aqui no Brasil seu uso é proibido. Uma investigação da Vigilância Sanitária- ANVISA no programa de Análise de Resíduos de Agrotóxicos em Alimentos, após examinar grande quantidade de amostras recolhidas em supermercados de Belo Horizonte ,São Paulo, Curitiba e Recife, constatou que o morango é o mais contaminado. O morango tem casca fina e rugosa, perfeita para o alojamento de agrotóxico. O morango chama a atenção por apresentar um número muito alto de substâncias toxicas que não deveriam ser utilizadas em seu plantio como a VINCLOZOLINA.
No relatório divulgado em 2010 pela ANVISA, consta o morango com 50% das amostras insatisfatórias e basicamente com as duas irregularidades : o uso de agrotóxicos proibidos e presença de resíduos de agrotóxicos acima dos limites permitidos. Não há solução eficiente para “limpar” os alimentos da contaminação por agrotóxicos. Boa parte dos venenos utilizados é sistêmica, ou seja, penetram na planta e circulam pela sua seiva. A lavagem com água corrente e imersão em solução com água e vinagre ou bicarbonato de sódio não são eficazes e apenas eliminam os resíduos que se encontram na superfície do alimento. Não é à toa que as pesquisas apontam o morango convencional como o produto mais rejeitado pelos consumidores... A única forma de se garantir o consumo de alimentos realmente “limpos” é adquirir produtos orgânicos, que são cultivados sem o uso de venenos.
Para conseguir sucesso num cultivo orgânico, onde não é permitido o uso de agrotóxicos é essencial a utilização de mudas de alta qualidade genética e sanitária, em local de baixo potencialidade de inóculo de fungos e bactérias. Uma produção de mudas de morangueiro, tem início na escolha das matrizes, oriundas de cultura de tecidos vegetais. Mas o desafio de plantar num local que não tenha fungo e bactéria? Essa é a questão! O Projeto que esta sendo executado pela “Fundação Vida e Meio Ambiente” propõe a utilização de ambiente protegido, canteiros suspensos, utilização de casca de arroz carbonizada e adubo orgânico. As matrizes são plantadas em travesseiros e os estolhos emitidos são direcionados a copos contendo esta mistura natural e orgânica que serve de suporte para o enraizamento e desenvolvimento da muda. As mudas assim produzidas apresentam melhor sistema radicular, são isentas de doenças provocadas por fungos de solo e chamadas de “PLUG PLANT”. As mudas produzidas neste sistema não sofrem stress e não são portadoras de doenças e pragas. Quando um cultivo de morangos começa bem planejado fica seguro e não é necessário o uso de produtos químicos para o controle e produção.
O controle das doenças, pragas e invasoras fica mais eficiente através da utilização de métodos biológicos, com efeito direto sobre os organismos. Neste projeto é utilizado o controle natural do espectro de radiação do sol que chega até as plantas. Com este manejo, pode-se controlar o ambiente interno da “Casa de Produção” (ESTUFA), que é coberta com plástico e tem eficiência na indução de resistência e no controle do desenvolvimento dos fungos. Neste sistema pode-se ter, além de tal ação duplamente protetora, um importante componente para o programa de manejo ecológico de controle integrado de doenças, usando-se inclusive o controle biológico, assim sendo nada de agrotóxico.
O projeto “MORANGOS DA VILLA” mostra que é possível produzir morangos orgânicos de alta qualidade.
O verdadeiro morango é saboroso, e não venenoso!
No próximo artigo falaremos sobre a Fisitina, um potente flavonoide cerebral encontrado em grande quantidade nos morangos......
Carlos Monteiro
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